Regras de Verão (Shaun Tan)
Regras de verão traz a história de dois irmãos que passam o verão juntos e desenvolvem diversas regras a partir de suas experiências, um tanto quanto catastróficas em alguns momentos... O livro é composto por um texto simples, que traz apenas uma frase por página (as “regras de verão”). Porém, a narrativa se desenvolve de forma perspicaz, nos conduzindo a diversos questionamentos acerca da infância, das relações entre irmãos e das regras. Claro que, para a construção da narrativa, o texto é acompanhado de ilustrações (ou, talvez seja melhor dizer que é o contrário), que nos transportam para realidades fantásticas e ao mesmo tempo muito próximas de nossas experiências e relacionamentos. O irmão mais novo é visto em uma festa fantástica em que os convidados são aves de rapina gigantes, vestidas elegantemente, que olham com extrema desaprovação e expressão ameaçadora seu gesto de tentar alcançar um petisco solitário no prato. Seu irmão mais velho, como em outras cenas da história, toma seu braço para impedir o desastre. O texto traz uma das regras: “Nunca coma a última azeitona da festa”. É claro que nunca estivemos numa festa de aves de rapina gigantes (pelo menos não enquanto acordados), mas quem já não se sentiu ameaçado(a) por “predadores” ao tentar quebrar uma regra de etiqueta em uma festa? Quem nunca sentiu que não entendia certas convenções e regras ditadas com segurança por um irmão ou amigo(a) mais velho(a)?
Shaun Tan, mais uma vez, nos regala com uma obra repleta de sensibilidade, ilustrações esplêndidas e questões intimas e tocantes.
Pontos de conversa:
Relacionamento entre irmãos;
Regras de conduta;
Férias;
Brincadeiras;
Desentendimentos;
...
Sugestões para a leitura dialógica:
Explore a capa do livro junto com as crianças, levantando hipóteses de como seria essa história, o que muda na vida deles durante as férias de verão, com quem brincam nessa época e como passam o tempo… Também pode-se perguntar o que as crianças acham que podem ser essas regras de verão, quem são os personagens… É interessante fazer uma exploração física, passando a mão sobre a capa e sentindo se existe alguma textura diferente e abrindo o livro de forma que a contracapa complete a ilustração.
Com a primeira regra: “Nunca esqueça uma meia vermelha no varal” existe um estranhamento, uma vez que aparentemente a consequência da regra se torna mais fantástica e de certo forma terrível. Explore esse sentimento.
“Nunca coma a última azeitona da festa” Nesse momento pode-se perguntar que tipo de festa é aquela ou se já passaram por situações similares em festas (como comer os docinhos antes da hora).
“Nunca deixe a porta dos fundos aberta durante a noite” explore os detalhes das ilustrações, os diversos animais presentes. Também é interessante atentar para as expressões dos dois irmãos e levantar possibilidades de como eles resolverão o problema.
“Nunca estrague um plano perfeito” Nessa ilustração pode-se dar um tempo para as crianças analisarem a situação e, sem dar respostas prontas, ir junto com elas descobrindo qual seria esse plano, o que deu errado, etc.
“Nunca dê suas chaves a um estranho” Explore os sentimentos suscitados nessa ilustração, como os irmãos podem estar se sentindo, as cores e os elementos do “estranho” na casa.
“Nunca pergunte o motivo” Qual seria esse motivo perguntado? Conversem sobre motivos para brigas, se eles já passaram por algo semelhante. Ademais busquem os personagens apresentados anteriormente e quais suas expressões.
Levante hipóteses sobre o que vai acontecer com o irmão mais novo a partir da cena da briga entre os irmãos.
As páginas seguintes, para favorecer a fluidez da história e construção dos sentimentos, é interessante dar um tempo para observar as ilustrações mas não fazer perguntas, evitando muitas pausas (respeitando, é claro as indagações das crianças).
“Sempre carregue um alicate” observe que essa é a primeira vez que aparece um “sempre”, pergunte sobre o que o irmão fará com o alicate e o que o mobilizou para isso.
“É isso” Relembre a história com as crianças a partir dos desenhos que aparecem na parede da sala (na ilustração) e converse sobre quais suas impressões, sentimentos, o que mais gostaram. Neste caso, vale à pena voltar nas partes preferidas e conversar um pouco mais sobre elas, explorando seus detalhes.
Dicas:
a) As sugestões apresentadas tratam de algumas partes que chamaram mais a atenção durante uma contação, também pensando a fluidez da história. Todavia, existem inúmeros aspectos a serem explorados nessa obra ímpar. Sinta-se a vontade para traçar seu próprio caminho ou então contar várias vezes a história, cada vez de um jeito diferente, ressaltando aspectos novos.
b) Brinque com as crianças de recontar a história de duas maneiras: primeiro, do ponto de vista do caçula. Depois, do ponto de vista do irmão mais velho. Assim, as crianças poderão flexibilizar seus pontos de vista, assumindo perspectivas diferentes, vivenciando a empatia e colocando-se no lugar do outro.
c) Para crianças mais velhas (mais ou menos a partir dos 9-10 anos), sugira que cada criança crie uma “regra de verão”, no espírito irônico da história (regras um pouco estranhas, um pouco difíceis de entender, às vezes um pouco arbitrárias ou sem sentido, e também “regras” no sentido de aprendizados, de experimentos que não deram muito certo…). Para aquecer, peça que cada um conte uma história vivenciada nas férias em que algo deu errado ou algo engraçado ou inusitado aconteceu. A partir da história, a criança pode criar sua própria ilustração fantástica e “regra de verão”.
d) No espírito dos monstros e das criaturas fantásticas que aparecem na história, pode-se sugerir às crianças que criem suas próprias criaturas em forma de fantoche, usando sacolas de papel. Botões, fitas, papel colorido, lã, pedaços de tecido, etc. podem servir para criar e decorar os fantoches.